
Bad Time Story
Abriu os olhos deitada no frio chão de madeira já podre e sentiu-se petrificada. Aquela melodia assemelhava-se a algo que já ouvira antes mas não estava certa de onde tal som provinha.
Pareciam não haver portas ou janelas mas apenas uma réstia de luz que parecia estar como que ali esquecida.
Tomou consciência de si e do vestido que usava, branco, longo. de uma renda imaculada. Branco como a sua própria pele que atentava ao negro do seu longo cabelo encaracolado.
Lembrava tempos passados sem denunciar a sua idade.
Da melodia que a despertara não restava uma nota metálica. Os seus olhos procuravam rapidamente adaptar-se à escuridão e percorriam as paredes sujas e escuras em busca de um sinal de conforto que lhe fosse familiar. A memória não a tinha, nem do antes nem do agora, apenas sentia a dor dilacerante de aceitar cada invasão do ar gélido que os seus pulmões a forçavam a impelir.
Avançou pouco segura. Num movimento forçosamente sereno olhou de perto o objecto. Uma velha candeia guardava um pedaço de cera disforme deixando adivinhar o que outrora fora uma vela. Havia algo ao lado. O único motivo de alegria capaz de atenuar ainda mesmo que só por um segundo tamanha inquietação; uma pequena caixa de fósforos.
Pegou-lhe com sofreguidão desejando com todas a suas forças que esta não lhe roubasse a réstia da sanidade e abriu-a. Um fósforo. Um só pedaço de uma matéria que se tornou quase que num suporte vital.
Acendeu-o vigorosamente, tal clarão incomodou os olhos que já se tinham habituado à escuridão, Os restos da vela colaboraram e permitiriam que os acendesse.
Ergueu-se e dirigiu-se de novo para o meio do pequeno compartimento vazio. Agora podia avaliar com mais clareza o espaço que a circundava...
Por instantes e só por brevíssimos instantes a imagem que teve daquela divisão quase lhe pareceu familiar . Uma outra divisão vazia, gélida e gasta pelo tempo... Porém com clareza se avistava ao fundo uma porta.
Ruidosamente a porta acedeu a abrir-se e para além dela nada, só escuridão. Cerrada, negra desoladora...
- Ainda assim... Só me resta tentar... – pensou.
Avançou abraçando a escuridão que a invadiu e preencheu todo o ser.
A sua atenção desviou-se então para a porta que se lembrava haver naquele compartimento. Estava ali, exactamente onde se lembrava estar o que lhe confortou a alma e lhe deu uma sensação de controle da situação.
Apressou-se a percorrer esse corredor que dava a essa outra divisão onde existia essa outra porta que desta vez seria indubitavelmente a hipótese de sair de vez daquele local.
Deparou–se com a divisão inalterável atendendo à sua memória, ou quase. A porta, o símbolo da sua esperança, não estava ali. Ao constata-lo avançou até onde anteriormente ficava a saída e oscultou a parede na tentativa desesperada de a encontrar. Porém sem qualquer sucesso.
Já em estado de desespero ao perceber que provavelmente não sairia mais daquele espaço correu pelo estreito corredor de volta à pequena divisão onde inicialmente estava e percorreu de novo com o olhar as paredes.
- Aquela cristaleira ali ... sinto como se algo não estivesse certo - pensou e dirigiu-se ao móvel. Tentou empurra-lo mas sem conseguir com que se movesse um só milímetro. – Sozinha nunca vou conseguir... –pensou. Apercebeu-se que de trás do móvel provinha uma luz muito ténue que parecia ser natural. Se existia luz natural então também existia uma fenda que fosse para o exterior. O problema estava no pesado móvel de madeira.
To be continue...